terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Demônios 2013 - 36 anos

  ARMAGEDDON 

 Voltando aos temas históricos o “Bloco Carnavalesco Demônios Ac. da Benjamin” apresenta os fatos do futuro, capaz de arrepiar os mais incautos foliões. Vem ai a batalha da libertação. Tudo transcorria bem – como sempre – na pacata cidade com as costureiras e alfaiates a coser os failetes e cetins, correndo para que tudo ficasse pronto na hora. Inconcebível era a calma de Eufrásio diante de tanta pressa, gigante e cosmopolitana corrida contra o tempo. Os cavalos estavam celados, o pelo reluzindo, já com a boca cheia de espuma branca. Mas, e as fantasias? Não ficavam prontas nunca! A charanga toda engravatada tocava num uníssono desafino, aplaudida entusiasticamente. Era pra acalmar a turma, sedento de fantasias. O caminho a ser percorrido pelo povo era o antigo, aquele que levava ao monte das batalhas, último patamar da malfazeja colina. E você Eufrásio, vai ficar ai parado feito uma mula enquanto estão querendo cercar a cidade? Não vai pegar num estilingue sequer? Eu não! – deveria significar o balanço da cabeça. “20 de dezembro de 2012” – faltava apenas um dia e apenas Eufrásio não corria. Os ares estavam ficando cinzentos. Chovia tanto que até parecia janeiro. Meia dúzia de túnicas prontas – grande começo. Mas vocês vão lutar com isso? – foram as únicas palavras pronunciadas pelo dito cujo Eufrásio - encostado no batente da porta. Sim, vamos lutar com isso sim! Por quê? Você tem outra sugestão? Outro balançar de cabeça também significando: NÃO! Todos sabiam que as seringas com água de cheiro, os limões e os sacos de confete e serpentina deveriam estar prontos também. Só faltavam as fantasias. Os ataúdes todos decorados e os sarcófagos repintados, afinal de contas a verba era curta e não poderia haver desperdício. Orçamento curto, parcos enfeites. Mais meia dúzia de panos costurados já somava: dúzia cheia. Correndo chegou Adamastor, mensageiro prestimoso e, incontinente manda a mensagem: “JÁ CHEGARAM” – estão descendo a Avenida da Saudade. Parte sobe a “Florêncio” e parte a “Comendador”. “TAMOS FERRADOS!” e assim como veio partiu, sem dizer mais nada. Alvoroço geral. Só faltavam as fantasias. O burburinho ia aumentando e sabíamos que o encontro seria inevitável. Vamos Eufrásio! Força na peruca! – que nada. Nada de sair do lugar! Aqueles que estavam debruçados sobre as máquinas de costura – exaustos pelo trabalho - sabiam da preferência política de Eufrásio, mesmo escondido atrás das rugas faciais, da vasta cabeleira e da pele queimada. Ele versava tanto na oposição quanto na situação, dependendo do vento e do soprar da brisa. Mas, aquela hora era hora de luta e de decisão. Ele pacientemente tomava a sua. Ficar parado por enquanto. Como não havia nenhuma significativa montanha, entendíamos que a área do combate seria no campo repleto de colinas em volta da planície paulistana, localizada a oitenta quilômetros da capital. Muitas guerras ali já se desenrolaram: a peitada no prefeito e o apagão na hora do desfile vale lembrar. Essa seria diferente. Duas prontas na máquina da esquerda. Somavam-se 14. Mais 3 na máquina do fundo, mais uma ali e outra aqui e as costureiras gritaram: “Terminamos as fantasias” – grito geral de alegria. Pronto! Estávamos vestidos para a batalha! Uma fila enorme formada na porta da frente – um montão de gente só de cuecas, calcinhas e sutiãs começou a se mexer feito cobra, entrando quase pelados e saindo pela porta dos fundos já vestido e maquiado, afinal de contas quem entra em uma batalha sem estar devidamente preparado? Já do lado de fora o ronco dos instrumentos não conseguiam tirar Eufrásio do marasmo. O inglês sentinela do quartel general continuava inerte. Quando o apito do mestre de bateria soou alto e a batucada parou é que pudemos perceber que a onda que vinha guerrear era precedida por música – e de boa qualidade – diga-se de passagem. Marchinhas conhecidas nos levaram, por minutos, a pensar que tudo aquilo era efêmero. Toda aquela cólera e bestial desespero não passavam de coisas das nossas cabeças, maquinadas pelo sentimento de alguns poucos e nada mais. Mas, a batalha deveria ser vencida e para isso não mediríamos esforços. Uma enorme cavalgada, feito nuvem de prata, cobriu nossas cabeças. Dos bucéfalos desceram tanta gente conhecida que nem nos atrevemos a dar cenoura aos cavalos que, àquela hora, já haviam arriado a algibeira. Reconhecemos a todos que estavam na trupe do lado de lá, antigos e queridos amigos que vieram guerrear conosco nesta batalha de confete e serpentina. Ainda bem que as fantasias ficaram prontas. Não deveríamos receber os amigos em trajes menores. Nem assim Eufrásio se comoveu. Continuou estático. Só se pronunciou quando foi veementemente questionado: _ O que está esperando Eufrásio. O que? Respondeu pronto e friamente: Deixo como está para ver como é que fica! E, tenho dito! A batalha continuou até a quarta-feira de cinzas com a bandinha do Grêmio tocando no coreto ao sol do meio dia.

Texto: Paulo Henrique Degani

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