terça-feira, 30 de dezembro de 2008



“ ...VAI, MANTER A TRADIÇÃO.
VAI MEU BLOCO TRISTEZA E PÉ NO CHÃO ! ...”
(homenagem ao Bloco Carnavalesco Demônios Acadêmicos da Benjamin)
por Paulo Henrique Degani


O toc-toc dos saltos na madeira do assoalho estava deixando meus nervos à beira de um colapso, principalmente porque já deveria ter me acostumado com isso. Afinal de contas são 26 anos trabalhando e lutando para a sobrevivência da instituição, “UM QUARTO DE SÉCULO”, como diria minha querida amiga Zil.
Pois é! Um quarto de século, de lutas e glórias, de inúmeras noites sem dormir e após algumas bebedeiras.
Pouco a pouco o toc - toc dos sapatos vai me transportando para um outro lugar, até que aquele ritmo compassado e métrico se confundisse com as pancadas de um surdo de marcação - lembrei-me do Magno e do Rogério - e da inesquecível PIRACEMA.
Com certeza estava vivendo de novo o ano de 1977.
Nos reuníamos todas as tardes/noites no mesmo lugar: “CAPITÓLIO”.
Nos EUA! Não, colega!
No Brasil - São Paulo - ITATIBA, na Praça da Bandeira - no BAR! (do Zé “Macarrão” Sartorato e do Pedro “Dinho” Rabechi) - proprietários da época. Espaço conhecido pois ficava na frente da casa da minha Vó Tonica.
Com pressa e com a destreza compreensível de um jovem mancebo, saltava os paralelepípedos da Florêncio Pupo em direção à Praça da Bandeira.
Lá estavam muitos amigos e conhecidos: Ademir de Oliveira, Adrianão Rampasso, Toninho Degani, Juninho Rabechi, Paletó, Djalma de Oliveira, Baixinho De Antoni, Di Costa, Pai Fabião, Chico do Ovo, Elói Monte, Mauricinho, LA., Messias Simioni, Marcos Chaves, Ocimar Rabechi, Paulo Degani 1, Deganinho - Paulo Degani - 2, Renato Del Nero, Ricardo Ribas, Beto Bochino, Roberto - Bob Panza - Panzarin, Rogério Scavone, Sérgio Pretti, Sérgio Mula, Dedé Roson, Silvana Rabechi, Mickey Cosenza, Ivo De Antoni Filho, José Fernando Solito, Ulisses Feres da Silva, Marcos Vicentini - Quinho, Leão - filho do Nersinho Barbeiro, Messias Simioni, Sérgio Uchoa, Galvão Hercules - Maçã, Rubens Degani, Carlos Sanfins Junior, Maricana Ribas, Anatólio, Dubé, Ban, Fatinha Geromel, Carlos Cesarini, Paulo Fernando Pires da Silveira, Antonio Carlos de Almeida Franco - Taco e a figura ímpar de Urbano Bezana - o magistrado dos casamentos.
E foi ali, sem muito esforço pois a turma era mesmo boa, que um novo fato começou a abalar as estruturas momísticas da terrinha.
Todos ali, reunidos em volta da mesa ou nas calçadas, viviam em torno do samba, nas notas que os bambas nos faziam cantar, nas poesias que faziam sonhar.
E, porque não dizer, sonhando estamos até hoje. Sonhando sempre estaremos pois podemos dormir. Temos o prazer da sensação do dever cumprido, e como foi comprido o caminho!
As ruas percorridas com vivacidade juvenil, hoje são transpostas mais lentamente com cautela redobrada. Nessas ruas já não corremos mais - no sentido real da palavra mas, nem por isso elas ficaram esquecidas nas rotas do coração e da saudade.
Nascia, no ano de 1977, um bloco de carnaval que deveria ter características especiais: ser um bloco mais espontâneo, ao estilo dos antigos corsos paulistas e daqueles que dominavam os carnavais de Salvador e Recife. Carnaval na rua, sem cordão de isolamento, onde todos pudessem participar e não somente assistir.
Toninho Degani era figura obrigatória e, comentando o assunto, a certa altura disse:
- “A turma é infernal. A maioria mora na Benjamin Constant. O nome só pode ser DEMÔNIOS DA BENJAMIN”.
Brilhante !!! O nome caiu como uma luva, sendo logo apoiado e passado à frente para a emoção de todos. Alguém acrescentou Acadêmicos, alegando que o bloco iria fazer escola e ensinar o samba à muita gente. Estava fundado o bloco carnavalesco “DEMÔNIOS ACADÊMICOS DA BENJAMIN”.
26 anos, quem diria?
Nossos rostos já ostentam sinais claros de envelhecimento e os cabelos (fuscalvos para alguns e poucos para outros) não conseguem esconder a idade.
Outro dia, quase sem querer, remexendo uma gaveta encontrei a foto com quase toda a turma, tirada na escadaria do Correio, na Benjamin.
Foi um choque.
Como mudamos!
Nossa! Quantos morreram!
Paletó, Chico Chrispim, Pelado, Baginha, Ademir de Oliveira, Nato Piovesana, Lorota, Butuca, Zé Galinha, Miguel Lourenço, Paulo Giordano, Pelézinho, Roberto Panzarin, Mário Barreto e, quantos se mudaram para outras paragens, deixando uma enorme saudade: Ivo, Chico do Ovo, Beto Bochino, Zé Dentinho, Bosquinho e ainda mais, quantos não estão na foto.
Um quarto de século é muita coisa, muitos anos, principalmente se pensarmos em tudo o que poderia ter acontecido e aconteceu nesse tempo.
Quantos companheiros e companheiras de luta vieram e se foram, alguns antes outros depois, alguns pra nunca mais voltar: Clube XV, Clube Regional, a Banda do Saco, Campos Salles, PPG - Progresso e Parte da Glicério, UPC - Unidos da Princesa da Colina, Banda dos Farrapos, Garimpeiros da Serra, as Virgens Desvairadas, a Escola de Samba Mirim do Zoca, Bairro do Sapo - outros que com certeza esqueci - e, sem querer menosprezar ninguém, as duas escolas de samba, linha de frente do carnaval itatibense: PIRACEMA e FOLIA DE REIS.
Se foram para nunca mais voltar os grandes bailes de carnaval do São João, do Rosita e do Grêmio, com as marchinhas de carnaval tocadas pelos Magníficos, Let’s Dance e pelo Conjunto de Músicos da Banda Santa Cecília, além de outros bons conjuntos da cidade e o término da folia, no coreto da Praça da Bandeira - ao raiar a quarta feira de cinzas.
Puxa vida!
Como era bom, depois de muito dançar, tomar um banho de ducha do carro pipa. Era um banho n’alma. Lavava até os “farrapos” que vestíamos.
E, apesar dos pesares e dos pesados, aqui continuamos nós, insistindo em sobreviver. Brigando para manter a tradição.
Para os menos sensíveis e, que nunca se prenderam com o verdadeiro significado da expressão “TRADIÇÃO”, isso pouco importa. Mas, para nós, inveterados - não confunda com invertebrados - importa e muito.
Importa porque Demônios Acadêmicos da Benjamin desfila a 26 anos pelas ruas da cidade - entenda-se Benjamin Constant, Piza e Almeida, Dr. Jorge Tibiriçá e Praça da Bandeira.
Importa porque nesses 26 anos, sempre livres de toda e qualquer pressão, fomos à rua para levar ao público esperançoso por um prato mais picante ou uma garfada mais afiada, um tom sempre “limpo e intrigante” da mais sublime forma da alegre pimenta: NOSSA IRREVERÊNCIA.
Importamo-nos com as pessoas que em 1977 acabavam de nascer e que hoje envergam com orgulho nossa camiseta; pensamos nos nossos filhos, sobrinhos e demais parentes - parece até convite de enterro - que no futuro estarão à frente do bloco e nós, quem sabe velhos ou mortos, não estaremos mais com eles. Mas, eles não estarão sós. Sempre existirão pessoas que gostam de se divertir de forma saudável. Elas sabem, que sempre poderão contar com os “Demônios da Benjamin”, abrindo caminho e espaço para a alegria e irreverência, mantendo a tradição.
Pensamos na “ala das crianças” ponto principal dos nossos desfiles: “São anjinhos disfarçados de diabinhos”.
E, nesses 26 anos, de carnaval, não de promessas, vivemos: “Vida, Paixão e Morte de Satanás”; “Vingança de Satanás”; “Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse”; “O Inferno de Dante”; “Os Demônios no Espaço”; “Os Demônios na Arca de Noé”; “Os Demônios na Pré-História”; “O Antigo Egito”; “A Orgia, do Terror, no Castelo Maldito”; “Retrospectiva dos 10 Anos de Desfile”; “Demônios na Tribo dos Pequepês - Antropófagos comedores de césio, prefeitos e jacarés” ; “Xuxa, A última tentação de Satanás”; “Demônios nas Histórias em Quadrinhos - A Ficção do carnaval de Itatiba”; “Demônios na Caravela dos Piratas onde o polvo não tem vez”; “Demônios debutando na Praça XV”; “Demônios na Era dos Transportes”; “Demônios apresenta o seu Samba do Crioulo Doido”; “A Maioridade dos Demônios”; “Demônios na Era das Comunicações ”; “Demônios - 20 Anos”; “Hoje é Sexta - Feira”; “Demônios - 1,999”; “O Auto da Barca do Inferno” - Uma alegoria do juízo final; “Demonos até 24 temas”; “Demônios no Vigésimo Quinto do Inferno” e, em 2003, “Demônios na Praça”.
Muitos podem dizer, UÉ! - 26 ou 27?
26 anos de desfile - o primeiro desfile foi em fevereiro de 1978 e, 27 anos de fundação - o bloco foi fundado em novembro de 1977.
Mas não importa!
O que importa é que estamos em pé. Prontos para cair de novo na folia, com irreverência e alegria, cantando quem sabe uma música diferente, pouco ou nada eloqüente, mas, com certeza, trazendo um caldeirão com água quente.
Aos que vão pra Avenida Marechal Castelo Branco, meus mais sinceros e calorosos aplausos, com os votos e a certeza de que a festa será a melhor possível, trazendo para todos que lá estiverem muita alegria, divertimento e bem estar. Nós ficamos por aqui. Como a Banda de Ipanema, O Galo da Madrugada, O Bacalhau do Batata e muitas outras manifestações culturais desse imenso Brasil, manteremos nossa tradição: Ficamos na Praça.
Publicado no Jornal de Itatiba – diário de 26 de fevereiro de 2003.

BLOCO CARNAVALESCO “DEMÔNIOS ACADÊMICOS DA BENJAMIN”

O NASCIMENTO DO BLOCO

O bloco “Demônios Acadêmicos da Benjamin” é uma tradição no carnaval itatibense. Como a “Banda do Saco” marcou os carnavais na década de 50, os “Demônios” representam, desde 1978, a irreverência, alegria e espontaneidade do povo itatibense.
Tentaremos mostrar, neste breve relato, um pouco da história e da evolução desse grupo que transcende suas atividades carnavalescas, participando de competições esportivas e estimulando as artes em geral.
Em 1977, Itatiba viu renascer seu carnaval de rua com a apresentação de diversas escolas de samba, que surpreenderam o itatibense por sua beleza e ritmo. Mas, mesmo antes das escolas de samba, um grupo de jovens se reunia na Praça da Bandeira e rua Benjamin Constant, onde batucavam e no final da madrugada acabavam saindo em serenata. O grupo era bastante heterogêneo: boêmios tradicionais, jovens estudantes, comerciários, bancários, dentre pessoas das mais variadas faixas etárias, cor, credo e religião, passavam horas unidos pelo amor à música e à noite. Por volta de novembro de 1977, começou a surgir a idéia de se formar um bloco carnavalesco, mas com um espírito diferente das escolas de samba. As escolas eram bem organizadas, com diretoria constituída, mensalidade e mesmo o desfile sempre seguia uma ordem, com a divisão do grupo em alas.
O futuro bloco deveria ter outras características: um bloco mais espontâneo, ao estilo dos antigos corsos paulistas e daqueles que dominavam os carnavais de Salvador e Recife. Carnaval na rua, sem cordão de isolamento, onde todos pudessem participar e não somente assistir. A idéia encontrou adeptos, afinal de contas já existiam os instrumentos, os músicos e os foliões. Só faltava uma coisa: o nome do bloco.
O bar Capitólio era um dos redutos do pessoal. Todo final de tarde havia o encontro para o aperitivo. Boêmio irreverente, Toninho Degani era figura obrigatória e, comentando o assunto, a certa altura disse:
- A turma é infernal. A maioria mora na Benjamin Constant. O nome só pode ser DEMÔNIOS DA BENJAMIN.
Brilhante! O nome caiu como uma luva, sendo logo apoiado e passado à frente para a emoção de todos. Alguém acrescentou Acadêmicos, alegando que o bloco iria fazer escola e ensinar o samba à muita gente.
Estava fundado o bloco carnavalesco “DEMÔNIOS ACADÊMICOS DA BENJAMIN”.