quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

TRINTA E TRÊS...
por Paulo Henrique Degani

O número 33 é trinta e três de qualquer lado, de trás pra frente e da frente pra trás, ou não?
... Em um consultório médico, numa cidadezinha do interior paulista... na sala de espera, já um pouco cabisbaixo estava o “velho chifrudo” – não é o que vocês estão pensando, não. Era o nono que estava ainda com a fantasia do bloco da Benjamin, naquela manhã de quarta-feira de cinzas, meio atordoado pelas canjibrinas e noites sem dormir.
Todos que entravam admiravam a fisionomia do homem: rosto corado, um chifre de cada lado, largado no sofá.
A balzaquiana enfermeira grita o nome do próximo paciente e aquele som estridente percorre-lhe os tímpanos com a frieza do aço e dilacera o que ainda restou de pensamentos.
- Sou eu, sou eu, já vou indo, pra que tanta pressa...
O consultório continuava o mesmo. Os mesmos livros, o mesmo aquário gigantesco na estante, os mesmos quadros, o mesmo bigode – agora com uma coloração bem diferente do cabelo do doutor – quem sabe era grecin - o mesmo médico – é claro! – a mesmice de sempre.
- Nessa idade ainda caindo na folia? En esta edad todavía tá na hora de parar! Por Dios! – foram estas as primeiras palavras ditas pelo Dr. Honório Mano de Piedra, num portunhol arrastado.
Essa interlíngua, característica do insigne catedrático, era sua marca registrada, aliada à pele bronzeada e ao vasto “bigodon”.
Senta-te na maca e diga ”33”.
Pronto, foi a gota d’água pra desmanchar o nó.
- PQP! O senhor também?
- Passei o carnaval inteiro escutando a mesma música nos trinta e três anos do bloco e o senhor vem agora querendo tirar um da minha cara?
- 33 é a PQP!
Arrastando o rabo pra fora da maca, o velho chifrudo já ia se metendo dentro da fantasia e colocando a mão na maçaneta quando o “viejo” médico o impede.
- Calma Astolpho, calma! Senta-te! Acalma-te!
- O quê acontece contigo? Porque tanta cólera?
- Sabe, Doutor Honório, da mesma maneira que a “ORDEM DOS FATORES NÃO ALTERA O PRODUTO” aprendi com meus queridos professores, para fixar a regra que, “A ORDEM DOS TRATORES NÃO ALTERA O PÃO DURO, NEM O VIADUTO”. Entra ano, sai ano e as coisas continuam as mesmas, independentemente de “quem” ou “quais” estejam ao nosso lado. Eu não consigo partir.
Basta ver o que está acontecendo neste país que nem mais trema tem nas palavras. Tremo só de calafrios quando esses imbecis dizem que está tudo às mil maravilhas, sem inflação, sem aumento de preços, sem maracutáias, sem corrupção, sem crimes, sem governo – êpa! – é melhor parar por aqui senão tiram, com a nova onda de censura, meu direito de pensar.
Está bien! Mas vamos falar de coisas mas amenas? Que tal? Podemos hablar sobre CARNAVAL, que tal?
- Ta combinado, não falo mais em política!
- Sabe doutor, para comemorar o 33º - trigésimo terceiro - aniversário, o Bloco Carnavalesco “Demônios Acadêmicos da Benjamin”, empalou um tema assaz interessante: “a ordem dos fatores não altera o produto” que, como a maioria do nosso povo sabe o que é.
- “Veja bem”: como a ordem dos fatores não altera o produto, vamos ver o que aconteceria se você pegasse um pão, o abrisse ao meio e acrescentasse presunto. Você terá como produto final: UM SANDUICHE! = pão + recheio. Se ao invés de colocar presunto, você colocar queijo, mortadela, rosbife, salame, patê, alface e tomate, cremes, doces ou fezes, você também teria, como produto final: BRUSCHETTA, TRAMEZZINO, PANINO, OU SIMPLESMENTE, UM SANDUICHE! – maravilhosa regra!
Caso você coloque o recheio do lado de fora, não sei se ficaria fácil de comer e mudaria a regra, ou não?
Agora, tomando como produto final mais uma deliciosa guloseima, popular no Brasil inteiro - o famoso BAURU – o que teríamos? Vejamos: é um sanduíche inventado por Casimiro Pinto Neto, apelidado "Bauru" em referência à sua cidade natal, no restaurante Ponto Chic do Largo Paissandú – SP/SP, em 1934. O sanduíche, cuja receita oficial é um pão francês com rosbife, fatias de tomate, picles e queijo muçarela derretido, condimentado com orégano e sal.
Já que a ordem dos fatores não altera o produto, peça um bauru aqui, vá retirando as suas camadas e veja se terá as citadas acima.
Sabe mais: tentando me livrar dessa megalomania imposta pela sociedade, procurei algo que pudesse dar cabo das dívidas e outras “cositas” mais. Encontrei o Arsênico. Quando li a bula do composto químico descobri que seu número atômico é “33”. Lembrei-me do bloco, dos desfiles, dos amigos e deixei a decisão para outra hora, depois do carnaval, é claro.
- Pensei seriamente em pular da torre da igreja, alta que quase toca o céu. Se pulo de lá, torço a coluna que tem “33” vértebras e fico fora do desfile. Melhor pensar em outra.
Intrigado com o número trinta e três que passou a me seguir, li um pouco mais sobre ele e descobri que ele é um número defectivo: BRILHANTE IDÉIA! Número defectivo: tomar dois litros de óleo de rícino.
- Morro pelas beiras! Não, meus amigos vão sempre lembrar que morri de caganeira!
Decidido a me livrar dessa dupla de números três, debruço sobre todos os meios possíveis de pesquisa para conhecê-los a fundo. Começo pela grafia dos números, usadas pelos povos, através dos tempos:
Numeração romana
XXXIII

Numeração grega
ΔΔΔIII

Numeração jônica
λγ'

Numeração chinesa
三十三

Numeração hebraica
ל"ג

Numeração armênica
ԼԳ

Acho que não vou sair do lugar com essa história, mas em compensação, ninguém vai saber mais do que eu em matéria de “33”.
Sigo adiante na saga do descobrimento – este título dá um livro – e não sei quando vou parar.
Quantas letras teriam “BLOCO DEMÔNIOS ACADEMICOS DA BENJAMIN”. Não, 33 não. Batata! 33!
Fui correndo até o computador para enviar uma mensagem ao Pai Fabião no demoniosdabenjamin.blogspot.com, mas a caixa estava cheia demais e deixei pra outra hora.
O saco foi enchendo tanto que decidi virar a mesa.
Comprei esta fantasia, deixei a nona em casa e fui brincar, como nos meus tempos de juventude, o maior carnaval que pudesse.
Comecei na sexta-feira, vestido como estou e concentrado na Benjamin Constant, com os “Demônios”. Sem pregar o olho e encharcado de tanta cerveja, emendo no sábado com a “Banda dos Farrapos”. Saímos da praça, descemos até a Marechal Deodoro pela Glicério, fomos até o “Dito Assis” comer um pãozinho e tomar um chopp e voltamos pela 29 e Luiz Scavone. Voltando, paramos no JI pra foto clássica. Quando chegamos de volta tomamos um banho na rua: a água veio do caminhão pipa da prefeitura.
À noite, pra não perder o pique, lasquei a fantasia da Piracema e fui sambar.
Como ninguém é de ferro, no domingo fui assistir as outras escolas de samba que enfeitam o carnaval de rua. Terminado os desfiles pulamos feito sapo no carnaval do Grêmio e do Itatiba, até o sol raiar.
Segunda – feira é dia brabo e por isso passei o dia no Capitólio. Tá certo que o Zé e o Dinho não estavam fantasiados, mas não precisava, estavam felizes com a lotação do “centro legislativo do governo dos Estados Unidos” em Itatiba.
A fantasia do bloco entra em ação novamente e a praça ferve ao som dos “Demônios”, derradeira apresentação do ano.
Acaba o desfile e a correria é geral. Trocamos a fantasia e partimos para os clubes, desta feita participando do “Bloco de Puebla”. A noite termina no restaurante do Grêmio regado a muita canja e torradinhas.
Terça - feira é derradeiro: “É hoje só, amanhã não tem mais...”.
A Piracema desfila de novo. Novo show de cores e muito samba. Advinha onde o “Degas” estava. Tava lá no meio.
Decido brincar a última noite de carnaval de forma diferente. Coloquei todas das fantasias que tinha, uma sobre as outras, e as ia tirando enquanto dançava.
Fico só esta. Ainda bem que não perdi as estribeiras.
Saindo do baile fomos dançar no coreto até o sol raiar.
- Doutor, vou-me embora. Não preciso de nada. Era só pra desabafar!
- Quanto é a consulta?
- Pra você...? 33 mil pesos...
Como resposta só se ouviu a pancada da porta.
- ... Astorpho, ô Astorpho!
- Acorda home!
- Já vô Bina!
- O Fabião tá no telefone.
- Astorpho, ô Astorpho! A S T O R P H O!
- Vai atende, ele que sabe se a fantasia ta pronta, o broco sai as 9!

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